Produção local de IgE e teste de provocação nasal positivo em pacientes com rinite persistente não alérgica

Produção local de IgE e teste de provocação nasal positivo em pacientes com rinite persistente não alérgica

Carmen Rondón, MD, José J. Romero, BS, Soledad López, PhD, Cristina Antúnez, PhD, Enrique Martın-Casañez, MD, PhD, Maria J. Torres, MD, PhD, Cristobalina Mayorga, PhD, Rebeca R-Pena, MD, PhD, and Miguel Blanca, MD, PhD

Rinite alérgica é uma doença inflamatória da mucosa nasal IgE mediada, usualmente diagnosticada pelos sintomas clínicos, teste cutâneo alérgico positivo e/ou IgE sérica específica a alérgenos. Alguns pacientes têm testes diagnósticos negativos para atopia, apesar de apresentarem sintomas clínicos sugestivos de rinite alérgica.

O objetivo do estudo foi investigar a resposta inflamatória nasal, presença de IgE específica ao Dermatophagoides pteronyssinus (DP) e resposta ao teste de provocação nasal com alérgeno DP (TPN-DP) em pacientes com rinite não alérgica persistente (RNAP) em comparação com pacientes com rinite alérgica persistente (RAP) e controles normais. Foram investigados 50 pacientes com RNAP, 30 com RAP e 30 controles saudáveis, pela análise fenotípica de leucócitos-linfócitos por citometria de fluxo (CD16, CD8, CD4, CD33, CD3 e CD45), proteína catiônica eosinofílica (PCE), albumina, IgE total e específica ao DP, e TPN-DP. Pacientes com RNAP e RAP apresentaram semelhante fenótipo de leucócitos-linfócitos no lavado nasal, ambos diferentes dos controles normais. No grupo RNAP 54% apresentava TPN-DP positivo, sendo que 22% tinha IgE específica nasal ao DP. Estes dados dão suporte à hipótese de que em alguns pacientes com RNAP possa haver uma produção nasal de IgE com inflamação local e resposta positiva ao teste de provocação nasal com alérgeno apesar da não evidência de atopia sistêmica. Outras pesquisas serão necessárias para avaliar a influência de outros alérgenos perenes e/ou mecanismos imunológicos. A implicação clínica é a de que a produção local de IgE sem detecção sistêmica é uma condição que deve ser considerada em pacientes com RNAP.

Comentários:
Muitos pacientes com sintomas consistentes com RAP não apresentam teste cutâneo alérgico positivo e/ou presença de IgE sérica específica. Há relatos de uma produção local de IgE específica, na ausência de sensibilização sistêmica. Na rinite idiopática (RI) não há evidência de atopia, apesar de muitos pacientes apresentarem sintomas compatíveis com RAP de acordo com os critérios clínicos do ARIA, ou seja, sintomas presentes em mais do que 4 dias da semana e mais do que 4 semanas ao ano, este grupo também recebe a designação de RNAP. Nos pacientes do estudo com RNAP e presença de IgE específica ao DP na secreção nasal e/ou resposta positiva ao TPN-DP, o fenótipo dos leucócitos foi semelhante ao dos pacientes com RAP, com níveis elevados de eosinófilos, células CD3+ e células CD3+CD4+ em relação ao grupo controle. Houve uma associação entre IgE específica ao DP na secreção nasal e o número de eosinófilos na secreção nasal. Os autores concluem que estas evidências corroboram para a teoria de uma síntese local de IgE, na mucosa nasal, daí o conceito de que algumas formas de RI possam ser uma expressão localizada de alergia.

A diferenciação de células B em células produtoras de IgE (immunoglobulin switching) pode ocorrer em órgãos periféricos como a mucosa nasal e não exclusivamente nos centros germinativos de linfonodos com se pensava inicialmente. Plasmócitos da mucosa nasal podem produzir IgE alérgeno específica. Os autores não discutem, mas ainda existe a potencial ação proteolítica enzimática de alguns alérgenos, os quais podem ativar diretamente as células epiteliais. Alérgenos provenientes de ácaros da poeira, como Der p 1, têm potencial de aumentar a permeabilidade epitelial por efeito direto sobre as junções epiteliais. A relativa importância de mecanismos não IgE para mecanismos IgE dependentes ainda precisa ser determinada.

Dra. Loreni C. S. Kovalhuk

Médica Alergista e Imunologista com Título pela ASBAI

Mestre em Pediatria – UFPR